domingo, 28 de fevereiro de 2021

Garota d'Ipanema

 


Vejo a tua beleza de pássaro, caminhando leve sobre a paisagem. Sinto o teu corpo dançando, suspenso na aragem.

E nos teus passos me embalo e me perco. Aos teus passos entrego a vida e o sonho.

Que belo caminhar, o teu.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Anjos do Universo


 "Anjo Caído" - Ricardo Alves

Tenho um irmão. Corrijo, tenho quatro irmãos. Mas, tenho um irmão. Em 2000, diagnosticaram-lhe esquizofrenia. Assim ditam os rótulos. Amparo esse anjo do universo com todas as minhas forças. Comove-me a sua visão, o seu amor por tudo, o seu entusiasmo. Comove-me o seu sofrimento, a sua clausura, o seu mundo impenetrável, a sua arte. Conseguimos (quase) sempre rir, da vida, do mundo, de nós. Já não sei quem ampara quem. Mas isso que importa? Amparamo-nos. E, nesse amparo, encontro muita certeza.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Dark Night of the Soul

 



Pintura de Cassiano Lima


"We don't become enlightened by imagining figures of light, but rather by making the darkness conscious"- Carl G. Jung

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Dor

 


Frida Kahlo


Nos dias em que a dor se instala no mais profundo da alma, pergunto-me onde guardei a sabedoria, onde guardei a serenidade.

Vejo a criança que fui, sempre a olhar o mundo no topo das árvores, e sinto falta dessa verdade. Agora vejo o mundo cá de baixo e já não sinto a brisa, embalando-me.

Abraço a criança que fui e, com ela, a gente que passa. Esqueci-me de guardar a sabedoria. Esqueci-me de guardar a serenidade. Mas nunca perdi o amor, em todas as suas formas.




segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Entropia


Sou o poeta sem poesia, o filósofo sem filosofia, o profeta sem profecia. Sou o artista sem obra, o amante que não se ama, o corpo perfeito que não funciona, o eterno fumo sem chama. Sou o yogui irritado, o orientador desorientado. Sou o espírito errante, sem fé. Nem pé. Sou o sangue que não corre, som sem melodia. Sou um infinito nada, dia após dia.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Aqui estou


Aqui estou, com toda a minha alma; e com todos os meus fantasmas.
Caminho junto ao mar numa breve trégua. Levo a cabeça cheia de pássaros, de ondas e de árvores frondosas. Mas nessa floresta escondem-se grandes demónios, ancestrais. “Sementes de karmas passados não podem germinar quando torradas no fogo da Sabedoria Divina.”
Vejo ao longe a silhueta do homem velho que se aproxima. Costas curvadas, passos curtos, mãos que se unem lá atrás, algemadas. Todos os dias nos cruzamos, como num ritual. Decido que é hoje que lhe aceno. Baixa o olhar, quando me vê. Amanhã, talvez. Talvez amanhã me aproxime para lhe dizer “Olá! Aqui estou, com toda a minha alma, e com todos os meus fantasmas. E tu?”

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Inocência


Apagam-se as luzes na Índia. Apagam-se as luzes dos amigos, dos irmãos, dos amantes. Apagam-se as luzes de Setembro. E no olhar de Helena.
Espreito a criança que corre, pés descalços na terra vermelha de África. Sigo o seu rosto até ao topo da árvore. E espero.
Alguma vez terei sido inocente?